Porque
estás sentada nos braços da solidão,
e as tuas horas são feitas de silêncios,
e querias ter a casa preenchida
de vidas que foram tão tuas,
e das tarefas infindas
que te enchiam os dias.
Querias.
Porque querias percorrer as ruas
com o ânimo renovado
no regresso a casa.
E querias que as presenças
que não te esperam mais
te curassem as feridas,
as fendas que se abriram em ti,
como as que o tempo abre na terra.
e as tuas horas são feitas de silêncios,
e querias ter a casa preenchida
de vidas que foram tão tuas,
e das tarefas infindas
que te enchiam os dias.
Querias.
Porque querias percorrer as ruas
com o ânimo renovado
no regresso a casa.
E querias que as presenças
que não te esperam mais
te curassem as feridas,
as fendas que se abriram em ti,
como as que o tempo abre na terra.
Dizem que tens a idade maior,
que é feita de ouro.
Será. Mas é de um ouro envelhecido,
como o ouro das arrecadas,
que guardas apertadas nas mãos,
sinal da tua passagem, outrora,
passado apagado pelo vento que passa,
de mão em mão.
E já nada brilha como o ouro novo, agora.
que é feita de ouro.
Será. Mas é de um ouro envelhecido,
como o ouro das arrecadas,
que guardas apertadas nas mãos,
sinal da tua passagem, outrora,
passado apagado pelo vento que passa,
de mão em mão.
E já nada brilha como o ouro novo, agora.
Querias.
Mas como pode parecer tão simples
o que querias?
Pássaros que era costume esperarem-te
de bicos abertos no ninho?
Memórias. São memórias,
uma seita de memórias embrulhadas em bruma
e com um cheiro escarninho, acre e doce do que foste feita.
Mas como pode parecer tão simples
o que querias?
Pássaros que era costume esperarem-te
de bicos abertos no ninho?
Memórias. São memórias,
uma seita de memórias embrulhadas em bruma
e com um cheiro escarninho, acre e doce do que foste feita.
Não consegues lembrar-te do
dia
em que a casa ficou vazia,
e tudo se degradou, até quase se desmoronar,
porque todos os pássaros foram voando
para longe de ti, até deixarem de regressar.
em que a casa ficou vazia,
e tudo se degradou, até quase se desmoronar,
porque todos os pássaros foram voando
para longe de ti, até deixarem de regressar.
E tu ficaste, ouro envelhecido,
empoeirado de branco como os teus cabelos,
dependurada de ti, nesse silêncio enevoado,
com uma pergunta nos olhos
e um fio de lágrima que desce lento,
como a água de um ribeiro
que seja estreito de leito.
empoeirado de branco como os teus cabelos,
dependurada de ti, nesse silêncio enevoado,
com uma pergunta nos olhos
e um fio de lágrima que desce lento,
como a água de um ribeiro
que seja estreito de leito.
Ficas, nessa delonga,
dependurada por um fio,
para seres apenas sombra.
dependurada por um fio,
para seres apenas sombra.
ANABELA BORGES, in ENTRE O SONO E O SONHO-Vol. IV- (Chiado Editora, 2013)
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