(Retirado do blog Fragmentos de Bondade)
terça-feira, 17 de dezembro de 2019
domingo, 8 de dezembro de 2019
domingo, 1 de dezembro de 2019
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
Amizade...
Esse
receber
em dobro
tudo
o que se oferece.
Maria José Meireles
receber
em dobro
tudo
o que se oferece.
Maria José Meireles
segunda-feira, 7 de outubro de 2019
terça-feira, 1 de outubro de 2019
segunda-feira, 29 de julho de 2019
segunda-feira, 22 de julho de 2019
sábado, 6 de julho de 2019
Presente...
Hoje
faltam-me palavras
para te dizer
a minha gratidão.
Hoje
quis escrever
o mais belo poema
para dizer
que és a justiça,
a verdade
e a beleza.
Maria José Meireles
quinta-feira, 20 de junho de 2019
quinta-feira, 13 de junho de 2019
Alda Lara
TESTAMENTO
À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...
Alda Lara
quinta-feira, 6 de junho de 2019
quarta-feira, 5 de junho de 2019
quinta-feira, 23 de maio de 2019
Miguel Torga
Um poema
Não tenhas medo, ouve:
É um poema.
Um misto de oração e de feitiço…
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar,
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz…
Miguel Torga
In ‘Diário XIII’
É um poema.
Um misto de oração e de feitiço…
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar,
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz…
Miguel Torga
In ‘Diário XIII’
terça-feira, 7 de maio de 2019
segunda-feira, 6 de maio de 2019
José Jorge Letria
QUANDO EU FOR PEQUENO
.
Quando eu for pequeno, mãe,
quero ouvir de novo a tua voz
na campânula de som dos meus dias
inquietos, apressados, fustigados pelo medo.
Subirás comigo as ruas íngremes
com a certeza dócil de que só o empedrado
e o cansaço da subida
me entregarão ao sossego do sono.
.
Quando eu for pequeno, mãe,
os teus olhos voltarão a ver
nem que seja o fio do destino
desenhado por uma estrela cadente
no cetim azul das tardes
sobre a baía dos veleiros imaginados.
.
Quando eu for pequeno, mãe,
nenhum de nós falará da morte,
a não ser para confirmarmos
que ela só vem quando a chamamos
e que os animais fazem um círculo
para sabermos de antemão que vai chegar.
.
Quando eu for pequeno, mãe,
trarei as papoilas e os búzios
para a tua mesa de tricotar encontros,
e então ficaremos debaixo de um alpendre
a ouvir uma banda a tocar
enquanto o pai ao longe nos acena,
lenço branco na mão com as iniciais bordadas,
anunciando que vai voltar porque eu sou
[pequeno
e a orfandade até nos olhos deixa marcas.
domingo, 5 de maio de 2019
sábado, 4 de maio de 2019
João José Cochofel
Breve,
o botão que foste
e o pudor de sê-lo.
Breve,
o laço vermelho
dado no cabelo.
Breve,
a flor que abriu
- e o sol mudou.
Breve,
tanto sonho findo
que a vida pisou.
João José Cochofel.
sexta-feira, 12 de abril de 2019
sexta-feira, 29 de março de 2019
sábado, 23 de março de 2019
Alberto Caeiro
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Alberto Caeiro
sábado, 9 de março de 2019
sexta-feira, 8 de março de 2019
quarta-feira, 6 de março de 2019
domingo, 24 de fevereiro de 2019
sábado, 9 de fevereiro de 2019
quinta-feira, 24 de janeiro de 2019
quinta-feira, 17 de janeiro de 2019
Tenho
tenho
uma saudade imensa
não sei de quê
olho o céu muito azul
neste dia de inverno
um pouco frio
e sinto saudade
não tenho paciência
para cartas formais
contas bancárias
tratar de ficheiros
ordenar papéis
negociar
quero criar
imaginar
escrever e desenhar
mas o quê?
tenho
uma saudade imensa
de criação
Alf. Jan. / 2015
não sei de quê
olho o céu muito azul
neste dia de inverno
um pouco frio
e sinto saudade
não tenho paciência
para cartas formais
contas bancárias
tratar de ficheiros
ordenar papéis
negociar
quero criar
imaginar
escrever e desenhar
mas o quê?
tenho
uma saudade imensa
de criação
Alf. Jan. / 2015
quarta-feira, 16 de janeiro de 2019
Paula Amaro
DO QUE EU
GOSTO
Gosto de flores e pessoas verdadeiras.
Gosto do ar puro, da sede dos teus lábios,
da água que em bátegas inteiras
cai, em flocos de neve, brancos, pálidos.
Gosto do sabor acre das ameixas verdes,
do mel de rosmaninho, filtrado da colmeia;
das ilhas de musgo que cobrem as paredes,
do uivar do lobo quando há lua cheia
Gosto do jasmim plantado no canteiro
por baixo da janela do meu quarto,
do sibilar do vento na palha de centeio
e daquela réstea de luz que vem do alto,
que brilha nos teus olhos cor do céu,
que traz de novo meu peito apertadinho
e até a névoa que cobre a lua como um véu
deixando livre o amor no meu caminho...
Gosto de flores e pessoas verdadeiras.
E não encontro as pessoas...
Gosto do ar puro, da sede dos teus lábios,
da água que em bátegas inteiras
cai, em flocos de neve, brancos, pálidos.
Gosto do sabor acre das ameixas verdes,
do mel de rosmaninho, filtrado da colmeia;
das ilhas de musgo que cobrem as paredes,
do uivar do lobo quando há lua cheia
Gosto do jasmim plantado no canteiro
por baixo da janela do meu quarto,
do sibilar do vento na palha de centeio
e daquela réstea de luz que vem do alto,
que brilha nos teus olhos cor do céu,
que traz de novo meu peito apertadinho
e até a névoa que cobre a lua como um véu
deixando livre o amor no meu caminho...
Gosto de flores e pessoas verdadeiras.
E não encontro as pessoas...
Anabela Borges
OURO ENVELHECIDO
Porque
estás sentada nos braços da solidão,
e as tuas horas são feitas de silêncios,
e querias ter a casa preenchida
de vidas que foram tão tuas,
e das tarefas infindas
que te enchiam os dias.
Querias.
Porque querias percorrer as ruas
com o ânimo renovado
no regresso a casa.
E querias que as presenças
que não te esperam mais
te curassem as feridas,
as fendas que se abriram em ti,
como as que o tempo abre na terra.
e as tuas horas são feitas de silêncios,
e querias ter a casa preenchida
de vidas que foram tão tuas,
e das tarefas infindas
que te enchiam os dias.
Querias.
Porque querias percorrer as ruas
com o ânimo renovado
no regresso a casa.
E querias que as presenças
que não te esperam mais
te curassem as feridas,
as fendas que se abriram em ti,
como as que o tempo abre na terra.
Dizem que tens a idade maior,
que é feita de ouro.
Será. Mas é de um ouro envelhecido,
como o ouro das arrecadas,
que guardas apertadas nas mãos,
sinal da tua passagem, outrora,
passado apagado pelo vento que passa,
de mão em mão.
E já nada brilha como o ouro novo, agora.
que é feita de ouro.
Será. Mas é de um ouro envelhecido,
como o ouro das arrecadas,
que guardas apertadas nas mãos,
sinal da tua passagem, outrora,
passado apagado pelo vento que passa,
de mão em mão.
E já nada brilha como o ouro novo, agora.
Querias.
Mas como pode parecer tão simples
o que querias?
Pássaros que era costume esperarem-te
de bicos abertos no ninho?
Memórias. São memórias,
uma seita de memórias embrulhadas em bruma
e com um cheiro escarninho, acre e doce do que foste feita.
Mas como pode parecer tão simples
o que querias?
Pássaros que era costume esperarem-te
de bicos abertos no ninho?
Memórias. São memórias,
uma seita de memórias embrulhadas em bruma
e com um cheiro escarninho, acre e doce do que foste feita.
Não consegues lembrar-te do
dia
em que a casa ficou vazia,
e tudo se degradou, até quase se desmoronar,
porque todos os pássaros foram voando
para longe de ti, até deixarem de regressar.
em que a casa ficou vazia,
e tudo se degradou, até quase se desmoronar,
porque todos os pássaros foram voando
para longe de ti, até deixarem de regressar.
E tu ficaste, ouro envelhecido,
empoeirado de branco como os teus cabelos,
dependurada de ti, nesse silêncio enevoado,
com uma pergunta nos olhos
e um fio de lágrima que desce lento,
como a água de um ribeiro
que seja estreito de leito.
empoeirado de branco como os teus cabelos,
dependurada de ti, nesse silêncio enevoado,
com uma pergunta nos olhos
e um fio de lágrima que desce lento,
como a água de um ribeiro
que seja estreito de leito.
Ficas, nessa delonga,
dependurada por um fio,
para seres apenas sombra.
dependurada por um fio,
para seres apenas sombra.
ANABELA BORGES, in ENTRE O SONO E O SONHO-Vol. IV- (Chiado Editora, 2013)
António Lobo Antunes
Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.
António Lobo Antunes - (Sátira aos HOMENS quando estão com gripe).
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