sábado, 17 de dezembro de 2016

Em mim...

Dizes-me
a única gota
de uma laranja
já seca.
De um rebanho
cinzento
a ovelha negra.
E amas
todas as mulheres
que couberem
em mim.

Maria José Meireles

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Órgão do mar

O órgão do mar (a música que as ondas tocam)

O órgão do mar está localizado na cidade de Zadar, na Croácia e é o primeiro instrumento deste tipo que é “tocado” pelo mar.
É um instrumento musical natural, que com o movimento do mar, cria sons muito bonitos, dependendo da velocidade das ondas e do vento e nunca pára, está sempre a emitir algum tipo de som.
As ondas batem nas escadas onde estão os retângulos e o som sai por buracos.



          

domingo, 22 de maio de 2016

Improviso para escala num cais qualquer...
Suspende uma palavra
uma palavra apenas
de todos e de cada um
dos fios do teu cabelo
e sai à vida assim
para que todos te leiam
no sentido das nuvens
ou do céu enfim azul
e que nenhuma rosa
da cor da casa tão longínqua
diga mais sobre o tempo
que te habita
do que o poema
que um dia escreverás
para quem não sabias.
(Ademar Santos)


sexta-feira, 18 de março de 2016

Olhar

"Não me olhes
como quem nada vê
além dos próprios olhos
olha-me
como se não quisesses
ver nada além de mim
ou como se já tivesses visto tudo
menos o meu olhar".
Maria José Meireles

Em: "Poemas para quem não gosta"


terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Fundo do Mar

No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho,
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)


sábado, 23 de janeiro de 2016

Regresso


Quando eu voltar,
que se alongue sobre o mar,
o meu canto ao Creador!
Porque me deu, vida e amor,
para voltar…

Voltar…
Ver de novo baloiçar
a fronde majestosa das palmeiras
que as derradeiras horas do dia,
circundam de magia…
Regressar…
Poder de novo respirar,
Oh!.. minha terra!
aquele odor escaldante
que o húmus vivificante
do teu solo encerra!
Embriagar
uma vez mais o olhar,
numa alegria selvagem,
com o tom da tua paisagem,
que o sol,
a dardejar calor,
transforma num inferno de cor…
Não mais o pregão das varinas,
Nem o ar monótono, igual,
Do casario plano…
Hei-de ver outra vez as casuarinas
a debruar o oceano…
Não mais o agitar fremente
de uma cidade em convulsão…
não mais esta visão,
nem o crepitar mordente
destes ruídos…
os meus sentidos
anseiam pela paz das noites tropicais
em que o ar parece mudo,
e o silêncio envolve tudo
Sede… Tenho sede dos crepúsculos africanos,
todos os dias iguais, e sempre belos,
de tons quasi irreais…
Saudade… Tenho saudade
do horizonte sem barreiras…
das calemas traiçoeiras,
das cheias alucinadas…
Saudade das batucadas
que eu nunca via
mas pressentia
em cada hora,
soando pelos longes, noites fora!...

Sim! Eu hei-de voltar,
tenho de voltar,
não há nada que mo impeça.
Com que prazer
Hei-de esquecer
toda esta luta insana…
que em frente está a terra angolana,
a prometer o mundo
a quem regressa…

Ah! Quando eu voltar…
Hão-de as acácias rubras,
a sangrar
numa verbena sem fim,
florir só para mim!..
E o sol esplendoroso e quente,
o sol ardente,
há-de gritar na apoteose do poente,
o meu prazer sem lei…
A minha alegria enorme de poder
Enfim dizer:
Voltei! …
(Alda Lara, 1948)