domingo, 31 de maio de 2015

MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA, in A CASA E O CHEIRO DOS LIVROS (Quetzal, 1996)

O verão deixa-me os olhos mais lentos sobre os livros.
As tardes vão-se repetindo no terraço, onde as palavras
são pequenos lugares de memória. Estou divorciada dos
outros pelo tempo destas entrelinhas - longe de casa,
tenho sonhos que não conto a ninguém, viro devagar

a primeira página: em fevereiro ainda faziam amor
à sexta-feira. De manhã, ela torrava pão e espremia
laranjas numa cozinha fria. Havia mais toalhas para lavar
ao domingo, cabelos curtos colados teimosamente ao espelho.
Às vezes, chovia e ambos liam o jornal, dentro do carro,
antes de se despedirem. Às vezes, repartiam sofregamente
a infância, postais antigos, o silêncio - nada

aconteceu entretanto. Regresso, pois, à primeira linha,
à verdade que remexe entre as minhas mãos. Talvez os olhos
estivessem apenas desatentos sobre o livro; talvez as histórias
se repitam mesmo, como as tardes passadas no terraço, longe
de casa. Aqui tenho sonhos que não conto a ninguém.


Têmpera s/ papel: Woman reading, por Vasile Ion



sábado, 16 de maio de 2015

A taça

A minha taça ergo, em louvor 
daquela em que tudo é belo 
e para todas as mulheres 
serve, parece, de modelo. 
A ela, um brinde, E se na terra 
outras houvesse a elas iguais, 
Seria a vida só poesia 
e o tédio um nome e nada mais.


Edward Coate Pinckney


terça-feira, 5 de maio de 2015

The Visitors, Abba

Nada é por acaso

Reergo-me agora
no meu pequeno mundo
para depois reerguer
um outro mundo maior
porque és o meu apoio
e a alavanca,                
o instinto de sobrevivência.

Maria José Meireles