Quando eu voltar,
que se alongue sobre o mar,
o meu canto ao Creador!
Porque me deu, vida e amor,
para voltar…
Voltar…
Ver de novo baloiçar
a fronde majestosa das palmeiras
que as derradeiras horas do dia,
circundam de magia…
Regressar…
Poder de novo respirar,
Oh!.. minha terra!
aquele odor escaldante
que o húmus vivificante
do teu solo encerra!
Embriagar
uma vez mais o olhar,
numa alegria selvagem,
com o tom da tua paisagem,
que o sol,
a dardejar calor,
transforma num inferno de cor…
Não mais o pregão das varinas,
Nem o ar monótono, igual,
Do casario plano…
Hei-de ver outra vez as
casuarinas
a debruar o oceano…
Não mais o agitar fremente
de uma cidade em convulsão…
não mais esta visão,
nem o crepitar mordente
destes ruídos…
os meus sentidos
anseiam pela paz das noites
tropicais
em que o ar parece mudo,
e o silêncio envolve tudo
Sede… Tenho sede dos crepúsculos
africanos,
todos os dias iguais, e sempre
belos,
de tons quasi irreais…
Saudade… Tenho saudade
do horizonte sem barreiras…
das calemas traiçoeiras,
das cheias alucinadas…
Saudade das batucadas
que eu nunca via
mas pressentia
em cada hora,
soando pelos longes, noites
fora!...
Sim! Eu hei-de voltar,
tenho de voltar,
não há nada que mo impeça.
Com que prazer
Hei-de esquecer
toda esta luta insana…
que em frente está a terra
angolana,
a prometer o mundo
a quem regressa…
Ah! Quando eu voltar…
Hão-de as acácias rubras,
a sangrar
numa verbena sem fim,
florir só para mim!..
E o sol esplendoroso e quente,
o sol ardente,
há-de gritar na apoteose do
poente,
o meu prazer sem lei…
A minha alegria enorme de poder
Enfim dizer:
Voltei! …
(Alda Lara, 1948)